ExposiçõesProgramação
Instituições participantes: Museu Prudente de Moraes, Câmara de Vereadores de Piracicaba, Centro Cultural Martha Watts e IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba)
Abertura: 06/11, às 10h
Local: Poupatempo Estadual (Praça José Bonifácio, 700)
Período de visitação: 06/11 a 06/12/2024
No aniversário da tragédia haverá abertura de exposição no Poupatempo, roda de conversa no Museu Prudente e lançamento de coleção virtual com mais de 275 itens.
Há 60 anos, entre 13h35 e 13h40 de 6 de novembro, Piracicaba presenciou uma das principais catástrofes de sua história. Parte do Edifício Luiz de Queiroz, o Comurba, se transformava em pó em plena praça José Bonifácio. A queda do imóvel provocou pelo menos 50 mortes e a memória desse acontecimento é relembrada por instituições da cidade, por meio de uma roda de conversa e exposições física e virtual.
Concebido como a “marca” do desenvolvimento da Piracicaba, o prédio remetia às linhas do tradicional edifício Copan, de São Paulo. Seu nome original era Edifício Luiz de Queiroz e o apelido surgiu em referência à empresa responsável pela obra, a Companhia de Melhoramentos Urbanos (Comurba). Ele ocupava uma ampla área entre as ruas São José e Prudente de Moraes, onde hoje fica o Poupatempo e a Caixa Econômica Federal.
As instituições que se mobilizaram para o projeto “Memória Comurba” são a Câmara Municipal de Piracicaba, o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, o Centro Cultural Martha Watts e o IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba).
Segundo o jornalista Edson Rontani Júnior, que preside o IHGP, parte considerável do acervo da instituição sobre o Comurba é composta por reportagens do Jornal de Piracicaba, Diário de Piracicaba e A Tribuna de Piracicaba. “O curioso é ver que os jornais da época traziam nas capas informações precisas, como, por exemplo, os nomes dos falecidos e seus respectivos endereços”, diz.
No dia 6 de novembro, a Câmara disponibilizará em seu Acervo Histórico uma coleção virtual com mais de 275 itens, por meio do Setor de Gestão de Documentação e Arquivo. O material poderá ser consultado no sistema Atom, plataforma de descrição arquivística e arquivo que armazena itens do acervo histórico do Poder Legislativo e de assuntos relacionados.
“O Setor de Documentação ficou responsável por recolher diferentes materiais, documentos e fotos em um lugar só. A gente trouxe para cá, digitalizou e, agora, na plataforma online, reuniu toda essa documentação”, explica a chefe do setor, Giovanna Calabria. Ela teve o suporte da arquivista Dayane Soldan, do servidor Bruno Didoné de Oliveira e das estagiárias Samara Lopes e Natália Marques.
Para o sistema Atom, foi desenvolvido ainda um vídeo que dá a perspectiva em 360 graus do Edifício Luiz de Queiroz. “Não é um projeto exato do prédio, mas sim uma representação ilustrativa aproximada, feita a partir de diferentes fotografias da edificação”, explica Giovanna Calabria. Para a produção da imagem, a equipe do Setor de Documentação teve o auxílio do engenheiro mecânico Luiz Felipe Bononi Carrara e das arquitetas Gabriela Machado e Nathalia Fraguglia.
Além dos jornais de época, especialmente os exemplares do extinto Diário de Piracicaba e Jornal de Piracicaba entre 1964 até o final de 1965, o sistema conta com documentos da própria Câmara, como leis, atas e notas de pesares enviadas por autoridades de todo o país.
Entre esses itens, chama a atenção uma nota de 15 de novembro de 1964, do Diário de Piracicaba: “Trabalho de remoção dos escombros chega ao fim. Mais de 4 dezenas de corpos retirados até ontem. Campanha de socorro já arrecadou mais de 1,5 milhão de cruzeiros.”
O Cine Plaza, que funcionava no Comurba, havia exibido, na véspera da tragédia, o filme “A Vida Pecadora de Christine Keller”, às 20h, com capacidade máxima de espectadores. Uma sessão estava programada para o dia seguinte.
POUPATEMPO –– A exposição “Comurba – 60 anos da queda” está sendo desenvolvida em parceria com o Departamento de Comunicação Social da Câmara. A abertura acontece às 10h do dia 6, no Poupatempo (praça José Bonifácio, 700, Centro). As visitas podem ser feitas até 6 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados das 8h às 12h.
“Essa exposição é uma contribuição de várias entidades e tentamos compilar todas essas visões. De uma forma geral, todos nós nos importamos em trazer para a exposição a memória daqueles que foram impactados pela queda do Comurba. Então, há vozes, muitas vozes, que foram silenciadas e que procuramos resgatar”, explica Ana Torrejais, diretora do Museu Prudente de Moraes.
“É claro que a gente não quer trazer a tristeza novamente, mas é importante relembrarmos para que se tenha mais cuidado a partir das tragédias que já aconteceram. Essa exposição física é importante justamente por acontecer na área onde o edifício funcionava, apesar de a exposição virtual ter um grande alcance”, diz Jocely Cerqueira Lazier, coordenadora do Centro Cultural Martha Watts.
HISTÓRIA –– A construção do Edifício Luiz de Queiroz começou no final da década de 1950, sendo que 14 dos 15 andares estavam prontos. Porém, apenas o Cine Plaza, no andar térreo, estava em funcionamento, o que diminuiu o impacto quanto ao número de mortos.
A remoção total dos entulhos do edifício ocorreu apenas na gestão do prefeito João Herrmann Netto (1977-1982), que aproveitou parte do material para aterrar uma área próxima à rua do Porto, transformando-a na Área de Lazer do Parque da Rua do Porto, que em 2010 recebeu denominação em sua homenagem. As causas e os culpados pela queda nunca foram identificados.
Em depoimento a este repórter no ano de 2019, por ocasião dos 55 anos da queda do edifício, o advogado, jornalista e professor Antonio Messias Galdino disse que a remoção dos entulhos teve início em 1972, na gestão do prefeito Cássio Paschoal Padovani, que havia acabado de assumir o Executivo, após a cassação de Francisco Salgot Castillon.
“Os restos do Comurba ficaram como um fantasma por vários anos. Após iniciada a remoção, na gestão de Padovani, houve a sua continuidade, pelos outros prefeitos”, disse Galdino, que presidiu a Câmara de 1975 a 1977. Quando o Comurba caiu, ele trabalhava na FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba), na rua Dom Pedro 2º, 627.
Há diferentes versões na imprensa sobre o número de mortos: algumas publicações mencionam 45, enquanto outras informam como 54 casos fatais. Além dos operários do edifício, entre as vítimas estavam funcionárias da bomboniere do Cine Plaza e de pessoas que circulavam pela praça no momento da queda.
Maurício Beraldo, historiador do Museu Prudente de Moraes, diz que o episódio provocou um trauma coletivo na cidade, que pode, inclusive, ter freado a construção de novos prédios no decorrer das décadas. Ele lamenta, no entanto, que parte dessa memória caminhe para o seu apagamento. “Por isso, é extremamente importante reforçar essa memória que a gente tem da cidade, pois a história não é feita só de momentos alegres e felizes.”
ESCOLA –– O projeto “Memória Comurba” começou a ser desenhado no primeiro semestre deste ano, após a Escola do Legislativo Antônio Carlos Danelon – Totó Danelon iniciar as discussões sobre a salvaguarda do acervo histórico de Piracicaba. Desde então, foram três debates sobre o tema.
Além das exposições física e virtual, será realizada pela Escola do Legislativo uma roda de conversa presencial, intitulada “60 anos da queda do Comurba: história e relatos pessoais”, no próprio dia 6, das 14h às 17h, no Museu Prudente de Moraes.
Com mediação do vereador Pedro Kawai (PSDB), diretor da Escola, o evento terá a participação da artista plástica Áurea Pitta Rocha, do diretor do IHGP, Edson Rontani Júnior, e do doutor em física dos solos Epaminondas Ferraz. Também participam o cirurgião dentista e ex-vereador Waldemar Romano, o servidor público da Câmara, Bruno Didoné de Oliveira, e Rubens Vitti, funcionário público aposentado com mais de 30 anos de atuação na Câmara.
Esse site usa cookies! Nós armazenamos dados temporariamente para melhorar a sua experiência de navegação. Ao utilizar nosso site, você concorda com isso.